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Necroturismo

Se te chamassem para um passeio no cemitério, você iria?

Necroturismo
Necroturismo

O Necroturismo, ou turismo em cemitérios, é uma prática que se mantém ao longo do tempo devido aos elementos artísticos e históricos presentes nesses ambientes.


Funciona como qualquer outro tipo de turismo, ou seja, no Necroturismo, o turista vai até o cemitério com o intuito de observar a arquitetura do local, o design dos túmulos e as obras de arte.


Aqui no Rio de Janeiro quem faz esses passeios é a Samantha Lobo.


Samantha Lobo
Samantha Lobo

JCD: Como iniciou esse turismo pelo cemitério?


Samantha Lobo: Eu sou professora da rede pública municipal e trabalhei por 16 anos no bairro do Caju. Desde 2010 eu percebia a importância e as possibilidades que os cemitérios ofereciam pedagogicamente e também turisticamente. Mas por motivos dos mais variados acabei deixando esse projeto engavetado. Eu pesquisava, mas não transformava em nada concreto. Até que em setembro de 2023 fui passar uns dias em São Paulo e participei de toda a programação do O Que Te Assombra naquele fim de semana. Eu já seguia eles nas redes sociais, mas ainda não tinha tido a oportunidade de participar das visitas.


Nesse fim de semana conversei com o Thiago Souza, do OQTA, e com a Professora Viviane Comunale, do Patrimônio Funerário SP, e começamos a conversar sobre minha vontade de fazer esse projeto aqui no Rio. E assim começou o Necrotour RJ.

Necroturismo
Necroturismo

JCD: Há uma grande procura pelo tour?


Samantha Lobo: A procura ainda é pequena. Acredito que por duas razões: ser no Caju, bairro ainda muito desvalorizado pelo poder público e, consequentemente, pelos cariocas; e também por que há um certo preconceito com os cemitérios. Me lembro que na minha família criança e adolescente não iam em enterros e que quem fosse deveria ao retornar tirar os sapatos antes de pisar dentro de casa, retirar toda a roupa e entrar no banho imediatamente. Eram os mesmos tipos de cuidados que adotamos com a pandemia de COVID-19. Era como se todas as doenças do mundo estivessem dentro do cemitério e o simples fato de termos entrado ali seria o suficiente para nos contaminar. E percebo que ainda existe esse tipo de pensamento em muitas pessoas, sem contar com o medo do sobrenatural, da morte, do morrer…


JCD: Quais cemitérios são visitados aqui no Rio?


Samantha Lobo: Por enquanto estou fazendo apenas o São Francisco Xavier, mas me pedem muito o São João Batista que, se tudo der certo, farei junto com O Que Te Assombra em setembro. E até o fim do ano farei também no Catumbi. A administração do Catumbi é muito simpática ao projeto.


Necroturismo - Emilinha Borba
Necroturismo - Emilinha Borba

JCD: Qual o túmulo mais visitado e procurado?


Samantha Lobo: No São Francisco Xavier os mais visitados pelos fãs eram da Emilinha Borba e do Paulo Sérgio. Mas segundo funcionários e pessoas que trabalham como zeladores particulares, as visitas diminuem a cada ano.


JCD: Pode nos contar alguma história sobrenatural?


Samantha Lobo: Eu nunca vivi nada sobrenatural em nenhum cemitério, mas existem as histórias. Dizem que quem fazia umas aparições no São Francisco Xavier era Tim Maia. Eu acho pouco provável que ele aparecesse lá já que nem nos shows ele gostava tanto de aparecer. Mas vai quê? Quem disse que viu tem certeza de que era ele! Eu já me sinto feliz por ter assistido um show dele em vida e acredito que, como está em seu epitáfio, o que ele quer é sossego.


JCD: Esses passeios podem ser feitos de noite?


Samantha Lobo: Poderiam acontecer, mas para isso seria necessária uma parceria com a concessionária. Até o momento não temos nenhuma parceria, infelizmente!


JCD: Você acha mal aproveitado o tour? Acredita que poderia ser mais divulgado até porque o cemitério tem uma história, uma arquitetura e é cultural?


Samantha Lobo: Certamente! Gostaria muito que a Secretaria Municipal de Cultura, a Secretaria Municipal de Educação e também as concessionárias olhassem com carinho para esse projeto que é turístico, cultural e também com forte potencial pedagógico. Gostaria muito de poder apresentar para essas entidades o projeto de visitas mediadas para alunos das escolas do Caju. Quem sabe um dia eu consiga!


JCD: O que não se pode fazer no tour em cemitério? Quais cuidados?


Samantha Lobo: O principal é ir com calçado fechado, usar repelente de mosquito e protetor solar e se hidratar bastante. É a primeira orientação que eu dou no início da visita é que muitas pessoas estão lá porque estão enlutadas e precisamos respeitar esse momento. Então, quando passa um cortejo, nós imediatamente abrimos caminho e nos silenciamos até que o cortejo passe. Se for possível, pegamos outro caminho.


JCD: Muitas pessoas têm medo de fantasma e alma penada, em algum tour você viu algo parecido?


Samantha Lobo: Nunca vi, nunca senti. E eu costumo passear muito por lá sozinha.


Necroturismo - inscrição para o passeio
Necroturismo - inscrição para o passeio

JCD: Como é a inscrição para o passeio?


Samantha Lobo: As datas e as inscrições são divulgadas e disponibilizadas no Instagram @necrotourrj. O link fica disponível na bio e também nos stories. É importante dizer que a visita é totalmente gratuita. Eu não cobro nada e apenas peço aos participantes que divulguem o projeto para que ele possa alcançar mais pessoas.


 

Necroturismo


Se te chamassem para um passeio no cemitério, você iria?


Samantha Lobo


Eu faço dois tipos de roteiros no São Francisco Xavier. O Necrotour que eu chamo de cultural, onde visitamos túmulos de artistas, políticos, de grandes tragédias, de pessoas importantes nas mais diferentes áreas. Visitamos, por exemplo: Dr. Bezerra de Menezes, Jamelão, Lorna Washington, Tim Maia, Presidente Figueiredo, Dora Bria e vários outros.


E o segundo roteiro é o Necrotour Crimizeiro onde conto as histórias de crimes que vão desde o início do Século XX até a atualidade a partir dos túmulos de vítimas e também de criminosos como a Fera da Penha, o Detetive Milton Le Cocq, Febrônio Índio do Brasil e muitos outros.


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